Exemplo da paróquia da Sagrada Família no Uganda

Roteiro para uma comunidade multicultural

 Roteiro para uma comunidade multicultural  POR-034
22 agosto 2024

A paróquia da Sagrada Família em Katulikire, na diocese ugandesa de Hoima, é um porto seguro para refugiados do Congo, Quénia e Sudão do Sul, bem como para pessoas deslocadas internamente no país. A fim de compreender melhor como orientar a vida paroquial, a irmã Lucy Akello realizou uma pesquisa na sua comunidade e obteve um quadro claro dos seus pontos fortes e desafios, bem como um bom modelo que poderia ser seguido por outras paróquias.

Ugandeses deslocados internamente, mas também refugiados de países vizinhos, encontraram refúgio na diocese de Hoima. A paróquia da Sagrada Família em Katulikire abriu as suas portas e iniciou programas para as integrar na vida da comunidade católica local.

Numa entrevista a Vatican News, a irmã Lucy Akello, das Pequenas Irmãs de Maria Imaculada de Gulu e beneficiária do programa African Sisters Education Collaborative (Asec) da Fundação Hilton, partilhou as suas reflexões sobre a pesquisa [realizada na Paróquia da Sagrada Família de Katulikire].

«O objetivo da pesquisa foi obter um quadro completo dos pontos fortes e fracos da paróquia», diz a irmã Lucy, licenciada em Ciências comportamentais e sociais e em Pedagogia. Ciente do rico património da paróquia, a irmã Lucy trabalhou com o pároco e os catequistas para compreender os seus pontos fortes e fracos.

Colaboração e inclusão

«A pesquisa incluiu diferentes tipos de participantes, explicou a irmã Lucy, crianças, jovens, adultos solteiros, casais e pessoas que raramente vão à missa. Esta forma de inclusão, acrescentou, proporcionou-nos uma perspetiva abrangente baseada na confiança mútua para examinar as realidades da paróquia». Esta pesquisa, explicou a irmã Lucy, produziu nada menos que 1800 respostas que demonstram o elevado nível de participação dos paroquianos.

Desafios-chave

A pesquisa destacou alguns dos principais desafios que a paróquia enfrenta. Muitos jovens, frequentemente jovens pais que viveram a guerra e a deslocação, procuram atividades geradoras de rendimentos, como alfaiataria ou cabeleireiro.

Muitos deles não têm educação formal [um diploma profissional] e, por isso, esperam receber formação prática para serem autossuficientes. Os efeitos persistentes da guerra e dos seus traumas requerem frequentemente apoio psicossocial para ajudar estes jovens a curar-se e a reintegrar-se na sociedade.

Embora o desejo de independência seja realmente grande, a falta de capital inicial impede estas jovens famílias de começarem iniciativas sustentáveis.

A pesquisa salientou igualmente o problema da barreira linguística: alguns paroquianos têm dificuldade em compreender as três línguas comuns utilizadas durante a missa, e assim algumas pessoas sentem-se meras espetadoras. Foi sugerida a oferta de cursos de línguas para ajudar as pessoas a sentirem-se parte da liturgia, promovendo ao mesmo tempo um ambiente mais inclusivo e acolhedor.

Os casais também se sentem por vezes desencorajados pela sua falta de participação concreta nas atividades da Igreja, especialmente quando se trata de contribuições financeiras e questões de casal. A este respeito, a irmã Lucy propôs uma abordagem multifacetada, começando com cursos de línguas e catequese, que abordasse especificamente as questões de casal [de modo a promover um ambiente acolhedor e compreensivo].

Além disso, a pesquisa revelou uma fraca liderança em várias capelas missionárias, atribuível em parte ao analfabetismo. «Muitos líderes destas capelas não têm educação formal e, por isso, sentem dificuldade em desempenhar o seu papel de forma eficaz», explica a irmã Lucy: são necessários programas de formação para fornecer aos líderes os conhecimentos e as competências necessárias. Por conseguinte, a pesquisa recomenda o reforço da catequese permanente para que os paroquianos estejam preparados para as suas responsabilidades de cristãos na Igreja.

Por fim, a pesquisa salientou o grave problema dos idosos: alguns paroquianos sentem-se ignorados e abandonados. A irmã Lucy realçou a importância de criar sistemas de apoio para garantir o bem-estar deste segmento vulnerável da população, de maneira que se possa sentir incluída na comunidade paroquial.

Promover uma cultura
do “oferecer”

A pesquisa também revelou o que para a irmã Lucy foi uma revelação surpreendente: muitos paroquianos veem as contribuições financeiras para a Igreja como um peso e não como uma responsabilidade partilhada.

A irmã Lucy evidenciou a importância da catequese para incutir um sentido de serviço e encorajar a participação ativa no crescimento e na vida da Igreja. «São necessárias campanhas de sensibilização que promovam a solidariedade, afirmou, juntamente com a nova mentalidade de objetivos partilhados e de participação». De acordo com a irmã Lucy, este sentido de serviço pode reforçar o sentimento de pertença e encorajar todos a contribuírem ativamente para o crescimento da Igreja.

Exemplo para
um melhoramento contínuo

Concluindo, a irmã Lucy disse que, para responder aos desafios descritos na pesquisa, são necessários cursos de línguas, formação em competências para a subsistência diária e uma nova orientação para a catequese, e que, desta forma, a paróquia poderá criar uma comunidade de fé mais inclusiva, vibrante e autossuficiente.

Refletindo um pouco mais sobre a pesquisa, a irmã Lucy afirmou que ela poderia ser um bom modelo a repetir noutras paróquias. Compreender as realidades únicas de cada população paroquial é essencial para um cuidado pastoral eficaz e esforços de desenvolvimento direcionados. Além disso, a informação obtida pode ser instrumental em propostas de crédito que garantam fundos para iniciativas cruciais.

#sistersproject

Roselyne Wambani Wafula