Entrevista do Papa Francisco à Província chinesa da Companhia de Jesus

Uma mensagem de esperança para o povo chinês

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22 agosto 2024

Uma mensagem de esperança e uma bênção para todo o povo chinês estão no centro da entrevista que o Papa Francisco concedeu ao padre Pedro Chia, diretor da sala de imprensa da Província chinesa da Companhia de Jesus, na Biblioteca do Palácio apostólico. A entrevista — publicada nas redes sociais — teve lugar no dia 24 de maio, memória da Bem-Aventurada Virgem Maria Auxílio dos Cristãos, padroeira do santuário de Sheshan, em Xangai. E é precisamente este santuário que o Papa gostaria de visitar, como referiu na entrevista, que se distingue por um forte enfoque espiritual e é caraterizada por memórias pessoais do Pontífice e pelas suas reflexões para o futuro da Igreja.

No país asiático, afirmou, gostaria de encontrar os bispos locais e «o povo de Deus que é tão fiel». «É um povo fiel. Passou por muitas coisas e permaneceu fiel». Aos jovens católicos chineses, em particular, o Pontífice reiterou o conceito de esperança, embora, disse, «me pareça tautológico dar uma mensagem de esperança a um povo que é mestre da esperança» e «da paciência na espera». E isto, frisou, «é muito bonito». A China é «um grande povo» que «não deve desperdiçar o seu património», acrescentou Francisco, pelo contrário: «deve levar em frente a sua herança com paciência».

Durante a entrevista, o Papa falou também sobre o seu pontificado, conduzido — explicou — com a colaboração, a escuta e a consulta dos chefes dos dicastérios e de todos. «A crítica ajuda sempre, mesmo que não seja construtiva», sublinhou, porque «é sempre útil, faz refletir sobre o modo de agir». E «por detrás da resistência pode haver uma boa crítica». Por vezes, é preciso «esperar e suportar», até «com dor», como quando se encontra resistência «contra a Igreja, como está a acontecer neste momento» por parte de «pequenos grupos». Os «momentos de dificuldade ou de desolação», porém, reiterou o Pontífice, «são sempre resolvidos com a consolação» do Senhor.

Quanto aos muitos “desafios” vividos até agora no sólio de Pedro, o Papa recordou em particular «o enorme desafio» da pandemia, bem como «o desafio atual» da guerra, especialmente na Ucrânia, em Myanmar e no Médio Oriente. «Procuro sempre resolver com o diálogo», explicou, «e quando ele não funciona, com paciência e também com sentido de humor», segundo os ensinamentos de São Tomás More.

A nível pessoal, o Pontífice recordou que viveu algumas “crises” durante a sua vida religiosa como jesuíta. É normal, explicou, «caso contrário eu não seria humano». Mas as crises são superadas de duas maneiras: são percorridas e atravessadas «como um labirinto», do qual se sai «de cima», e depois «nunca se sai sozinho, mas ajudado, acompanhado», pois «deixar-se ajudar é muito importante». Ao Senhor, diz Francisco, «peço a graça de ser perdoado, que Ele seja paciente comigo».

O Pontífice também falou sobre as quatro preferências apostólicas universais dos jesuítas, estabelecidas em 2019 para os próximos dez anos: promover os exercícios espirituais e o discernimento, caminhar com os pobres e os excluídos, acompanhar os jovens na criação de um futuro de esperança e cuidar da casa comum. Estes são quatro princípios «integrados» que «não podem ser separados», afirmou, salientando que o acompanhamento, o discernimento e a missionariedade são as pedras angulares da Companhia de Jesus.

Olhando para o futuro da Igreja, o Papa recordou que, segundo alguns, ela será «sempre cada vez mais pequena» e terá de «estar atenta para não cair no flagelo do clericalismo e da mundanidade espiritual» que representa, nas palavras do cardeal de Lubac citadas pelo Pontífice, «o pior mal que pode atingir a Igreja, pior até do que o tempo dos papas concubinários». Por fim, àquele que será o seu sucessor no sólio de Pedro, Francisco recorda a importância da oração, porque «o Senhor fala na oração».

Isabella Piro