O cardeal Bo, presidente da Federação das conferências episcopais asiáticas, aos meios de comunicação do Vaticano

O Papa dará novo impulso às Igrejas na Ásia

 O Papa dará novo impulso às Igrejas na Ásia  POR-035
29 agosto 2024

“Muitas das nossas igrejas estão cheias durante as missas de domingo. Muitos dos asiáticos que emigram para outros países mantêm a sua fé viva”. Numa ampla entrevista à mídia vaticana, o cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon (Myanmar) e presidente da Federação das conferências episcopais da Ásia ( fabc ), traça um retrato dos fiéis da Ásia e da Oceânia que o Papa Francisco encontrará durante a viagem apostólica à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura. A visita está programada para o período de 2 a 13 de setembro e marca a 45ª viagem apostólica internacional de Jorge Mario Bergoglio, uma das muitas na Ásia durante o pontificado. O cardeal Bo fala de uma Igreja vibrante e diversificada que, apesar dos desafios políticos, económicos, sociais, ambientais e culturais, e embora “nem sempre seja fácil viver a fé cristã em algumas partes da Ásia”, “continua não apenas viva, mas também dinâmica de diferentes maneiras”.

O Papa Francisco está prestes a fazer a sua 45ª viagem apostólica à Ásia e à Oceânia. Como avalia a importância desta visita?

Muitas pessoas na Ásia só ouvem falar do Papa e “veem-no” com a ajuda da mídia digital. Mas para a população em geral, o Papa é uma figura um pouco “distante”. Portanto, a vinda do Papa à Ásia não apenas empolga, mas também desperta um zelo e um sentido de fé renovados, pois mostra que os povos asiáticos não estão distantes da mente e do coração do Papa. O que é mais encorajador é que o Papa Francisco quis visitar países menores, pouco conhecidos no mundo, como Papua-Nova Guiné e Timor Leste, oferecendo ao mundo a oportunidade conhecer as Igrejas dessas terras.

Estamos a falar de países muito diferentes: a opulência de Singapura e a pobreza de Papua-Nova Guiné, a Indonésia de maioria muçulmana e a maioria católica da antiga colónia portuguesa de Timor Leste. Como torna a diversidade dos países asiáticos esta visita particularmente significativa? O que é interessante observar?

A singularidade da Ásia está justamente na sua diversidade, em termos de culturas, religiões e tradições. Embora os cristãos sejam uma minoria na maioria dos países asiáticos, com exceção das Filipinas e de Timor Leste, vemos uma fé crescente. As Igrejas na Ásia, embora pequenas, são vibrantes e vivas. O Santo Padre pode experimentar a diversidade dinâmica das Igrejas asiáticas e a fé do seu povo. Seja rico ou pobre, maioria ou minoria, a fé do povo permanece firme apesar da diversidade dos desafios nos diferentes países.

O que pode aprender a Igreja universal da Igreja na Ásia?

Vêm-me à mente três palavras: paz e harmonia e, em seguida, o que torna a paz e a harmonia uma realidade, ou seja, o diálogo. Apesar dos muitos desafios enfrentados pelas Igrejas na Ásia, a nossa meta é buscar a paz e a harmonia. Todos buscam a paz e a harmonia, e é por isso que, diante da opressão política, da pobreza, da devastação climática e de muitas outras situações, a Igreja deve trabalhar com outros para restaurar a paz e a harmonia na vida das pessoas diretamente afetadas. Na Ásia, aprendemos a cooperar, dialogar e respeitar uns aos outros. Mas, acima de tudo, aprendemos a coexistir como irmãos e irmãs, apesar das dificuldades. Penso que os caminhos da paz e da harmonia por meio do diálogo são o que a Ásia pode oferecer à Igreja universal.

O que nos pode dizer sobre o testemunho da Igreja asiática?

As Igrejas na Ásia são vivas e vibrantes. Basta ver que muitas das nossas igrejas estão cheias durante as missas de domingo. Percebe-se que muitos dos asiáticos que emigram para outros países mantêm a sua fé viva. Eles são os nossos missionários nessas Igrejas antigas. Eles levam uma esperança e um zelo renovados para esses seus “novos lares”. Também somos testemunhas de muitas igrejas perseguidas na Ásia. Nem sempre é fácil viver a fé cristã em algumas partes do continente. Apesar desses desafios — políticos, económicos, sociais e culturais — a sua fé continua não apenas viva, mas também dinâmica de diferentes maneiras.

O que é necessário para a Igreja na Ásia ou em cada uma dessas quatro Igrejas que o Papa visitará?

É difícil para mim dizer o que cada uma das Igrejas precisa, mas a minha oração é que a visita do Santo Padre leve a um zelo renovado pela fé e a uma maior abertura para vivermos em paz e cuidarmos uns dos outros como irmãs e irmãos, cada um cuidando do outro independentemente das diferenças que possamos ter.

Na sua opinião, qual será a importância do tópico de cuidados climáticos e ambientais, já que esta parte do continente é cada vez mais atingida por desastres naturais causados pela crise climática?

Os efeitos da mudança climática estão a ser sentidos de forma devastadora na Ásia. Como a questão do cuidado com o clima está próxima do coração do Santo Padre, tenho a certeza de que ele abordará essa temática. Não podemos continuar a ser espetadores, mas devemos envolver-nos ativamente na promoção do cuidado com o clima para o bem comum de todos. A Igreja na Ásia também deve desempenhar um papel de liderança na promoção dessa mudança na região e no mundo.

Deborah Castellano Lubov