· Cidade do Vaticano ·

Mensagem do prefeito Ruffini à assembleia da Ceama

Redescobrir a comunicação humana

 Redescobrir a comunicação humana  POR-035
29 agosto 2024

Transformar a comunicação atual com a “sabedoria do coração”, como indicado por Francisco, voltou a ser tema de reflexão em busca da cultura do encontro e do diálogo também no espaço da Conferência eclesial da Amazônia, Ceama. Reunida em assembleia em Manaus, contou com a participação virtual de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a comunicação que citou, entre outros, o poeta brasileiro Vinicius de Moraes.

«Acima de tudo, gostaria de dizer uma palavra. Uma palavra que, infelizmente, usamos cada vez menos. Obrigado! Kûekatu!». Falando em espanhol, e usando uma expressão indígena, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a comunicação do Vaticano, começou o vídeo dirigido aos participantes na 2ª assembleia da Conferência eclesial da Amazônia, Ceama, evento de 4 dias em Manaus que terminou a 26 de agosto. O prefeito ofereceu um painel sobre a missão da Ceama a partir da perspetiva do Vaticano, que contou também com a presença do cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o desenvolvimento humano integral.

«Ainda me lembro com gratidão e emoção do Sínodo para a Amazônia», continuou Ruffini, afirmando que o encontro de Manaus dá provas de que «o caminho continua. Em frente. É importante estar juntos. Caminhar juntos. Traçar juntos o caminho de comunhão que nos une». Em seguida, o prefeito falou sobre a importância da comunicação para «proteger as suas raízes e tecer a rede da nossa comunhão».

Citando o Papa Francisco, recordou que o Pontífice refletiu sobre a comunicação através do coração, e que o coração não esteja endurecido. Depois, citando Delio Siticonatzi Camaiteri, do povo Ashaninca, que participou do Sínodo sobre a Amazônia, Ruffini disse que é uma lição para todos: «Não endureçam o coração... Esse é o convite de Jesus. Ele nos convida a viver juntos. Acreditamos em um só Deus. Devemos permanecer unidos». E é para isso que deveria servir a comunicação, reforçou o prefeito: para unir o que está dividido, porque é um dom recíproco de Deus «que nasce da relação que se estabelece ao falar, ouvir e compreender o outro».

Assim acontece em encontros como este, que ajudam a «redescobrir que já somos uma rede, para testemunhar a importância de estar unidos e a beleza da comunhão que nos une e fortalece». Até distantes, reforçou o prefeito, é um trabalho eclesial conjunto em direção a um mundo melhor e a uma comunicação alternativa:

O prefeito falou também da responsabilidade de criar uma narrativa diferente e do bem para o sistema de comunicação, mesmo se com a exigência de uma formação permanente, baseado mais na humanidade do que na tecnologia das máquinas ou no cálculo algorítmico. Como afirma o documento final do Sínodo sobre a Amazônia: «Precisamos de uma cultura comunicativa que favoreça o diálogo, a cultura do encontro e o cuidado da nossa casa comum...

E o Papa falou sobre essa cultura, continuou Ruffini, através da poesia de Vinicius de Moraes, um dos grandes artistas brasileiros do século XX: «Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha (das pernas em couro, do corpo em pano e) da cabeça em aço. (Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolos de força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra), da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança—chamas, de cuja sementeira brotam solidões» (A transfiguração pela poesia, 1946).

Como diz Francisco, continuou Ruffini, é preciso recuperar a “sabedoria do coração” para saber ler as novidades do nosso tempo e «redescobrir o caminho de uma comunicação plenamente humana». Um caminho de valorização da tradição dos povos amazônicos e de unidade diante do egoísmo, sem esquecer as “raízes da nossa comunicação” a manter no coração. “Kûekatu”, concluiu o prefeito.

Andressa Collet