· Cidade do Vaticano ·

O que faz o mundo
ir em frente

 O que faz  o mundo  ir em frente  POR-036
05 setembro 2024

Oque «faz ir em frente» o mundo? Alguns responderiam a economia, outros a luta de classes, outros a curiosidade ou o desejo de empreender e experimentar, e outros ainda o amor. Há mais de trinta anos, na Argentina, uma velhinha disse ao bispo Bergoglio que a misericórdia divina é a trave que sustenta o mundo («se o Senhor não perdoasse tudo, o mundo não existiria»); hoje, Francisco indica qual é o “motor” que o faz ir em frente. Da catedral de Jacarta, o Papa explicou que o que faz ir o mundo em frente é «a caridade que se oferece» na compaixão. Disse que a compaixão não consiste em dispensar ajuda ou esmolas aos necessitados, «olhando para eles de cima para baixo», mas significa debruçar-se para entrar realmente em contacto com quantos estão no chão e, assim, levantá-los e restituir-lhes a esperança. Significa também abraçar sonhos e desejos de resgate e justiça dos necessitados, tornando-se seus promotores e cooperadores.

Alguns têm medo da compaixão, observou ainda o Sucessor de Pedro, «porque a consideram uma fraqueza e, ao contrário, exaltam como se fosse uma virtude a astúcia daqueles que servem os próprios interesses, mantendo-se à distância de todos, sem se deixar “tocar” por nada nem por ninguém, pensando que assim são mais lúcidos e livres para alcançar os seus objetivos». Mas isto — explicou — é «uma maneira falsa de ver a realidade». Pois «o que faz o mundo ir em frente não são os cálculos de interesse — que geralmente acabam por destruir a criação e dividir as comunidades — mas a caridade que se oferece. A compaixão não ofusca a visão real da vida; aliás, faz-nos ver melhor as coisas, à luz do amor».

É a compaixão que Jesus nos testemunha em cada página do Evangelho: não permanece indiferente à realidade, comove-se visceralmente, deixa-se ferir pelo drama e pela necessidade daqueles que encontra. Pelo contrário, a indiferença, que a longo prazo se transforma em cinismo, faz-nos crer que somos mais livres, mas na realidade torna-nos pouco a pouco cada vez menos humanos.

Andrea Tornielli