Encontro com os jovens no Centro de convenções em Díli

A coragem de sonhar alto e promover a reconciliação

 A coragem de sonhar alto e promover a reconciliação  POR-038
19 setembro 2024

Depois de se despedir da nunciatura apostólica em Timor-Leste, na manhã de 11 de setembro o Papa Francisco foi ao Centro de convenções de Díli, onde teve lugar o encontro com os jovens, último compromisso público da sua visita ao país asiático. Após a saudação que lhe foi dirigida pelo responsável da Comissão nacional da juventude católica e o testemunho de quatro jovens, o Pontífice pronunciou este discurso.

Dadeer di’ak! [Bom dia!].

Em primeiro lugar, faço-vos uma pergunta. Vamos ver quem sabe responder: o que é que os jovens fazem? Diz-me tu [aponta para uma jovem].

[a jovem] “Anunciam Cristo”.

Muito bem. E que mais fazem os jovens?

[outro jovem] “Anunciam a Palavra de Deus”.

Perfeito. E que mais?

[outro jovem] “Amar-nos uns aos outros”.

Amar. Os jovens têm uma grande capacidade de amar. E que mais fazem os jovens?

[outro jovem responde] “Devemos cultivar a paz no nosso país”.

Nunca vos esqueçais disso. Muito bem, muito bem. Mas há uma coisa que os jovens fazem sempre, os jovens de diferentes nacionalidades, os jovens de diferentes religiões. Sabeis o que é que os jovens fazem sempre? Os jovens criam confusão, os jovens fazem barulho. Concordais com isto? [respondem: Sim!].

Obrigado pelas vossas saudações, pelos testemunhos e pelas perguntas. E agradeço-vos as danças, porque vós sabeis que dançar é exprimir um sentimento com todo o corpo. Conheceis algum jovem que não saiba dançar? A vida vem com a dança. E vós sois um país de jovens.

Esta manhã, disse a um bispo o seguinte: nunca mais me esquecerei dos vossos sorrisos. Não deixeis de sorrir! E vós, jovens, sois a maioria da população desta terra e, com a vossa presença, enchei-la de vida, esperança e futuro. Não percais o entusiasmo da fé. Imaginai um jovem sem fé, com um rosto triste. E sabeis o que é que deita abaixo um jovem? São os vícios. Atenção! Porque aparecem por aí aqueles que se dizem vendedores de felicidade e vendem-vos droga e muitas coisas que vos fazem felizes apenas por meia hora. Vós sabeis isto melhor do que eu, não é verdade? Sim ou não? Não consigo ouvir... [Sim!]. Muito bem! Obrigado!

Desejo que continueis a seguir em frente com a alegria da juventude. Mas não vos esqueçais que sois herdeiros daqueles que vos precederam na fundação desta Nação. Por isso, não percais a vossa memória. A memória daqueles que vos precederam e com tanto sacrifício construíram esta Nação.

Há duas coisas que me tocaram o coração quando passava pelas ruas. Tocaram-me verdadeiramente o coração. A juventude deste país e o sorriso. Sois um povo que sabe sorrir. Continuai assim! Não vos esqueçais.

Um jovem tem de sonhar. Mas, padre, como é que se sonha? Bebendo álcool? [Não] Não! Se o fizeres, terás pesadelos! Convido-vos a sonhar, a sonhar com coisas grandes. Um jovem que não sonha é um reformado da vida. E algum destes jovens, de entre vós, é reformado? [Não!] Os jovens precisam de fazer barulho, para mostrar a vida que têm. Um jovem está no meio do caminho da vida. Está no meio, entre as crianças e os mais velhos. E sabeis qual é uma das riquezas mais bonitas de uma sociedade? Sabeis? Os idosos, os avós. Vós, jovens e, do outro lado, os idosos. São os avós, são os idosos que dão a sabedoria aos jovens. Vós respeitais os mais velhos? [Sim!] Os idosos precedem-nos sempre a nós, jovens, na história, não é verdade? Os idosos são um tesouro. Os dois tesouros de um povo são as crianças e os idosos. Compreendestes? Dizei então: quais são os dois maiores tesouros de um povo? [as crianças e os idosos]. As crianças e os idosos. Por isso, uma sociedade como a vossa, que tem tantas crianças, precisa de cuidar delas. E uma sociedade que tem muitos idosos, que são a memória, tem de os respeitar e cuidar deles.

Vou contar-vos uma história: numa família, estavam a comer juntos o pai, a mãe, os filhos e o avô já com uma idade muito avançada. O avô, pobrezinho, já tão idoso, enquanto estava à mesa, sujava-se e deixava cair a comida. Então, o pai decidiu pôr uma mesa na cozinha para que o avô comesse sozinho. E explicou à família que, desse modo, sem o avô, poderiam convidar pessoas sem se sentirem envergonhados por causa dele. Pensai nisto. Alguns dias depois, o pai chega e encontra o filho de cinco anos a brincar com umas tábuas. E o pai pergunta-lhe: “O que estás a fazer com essa madeira?” — “Estou a fazer uma mesa” — “Para quê?” — “Para quando fores velho e tiveres de comer sozinho”.

Os dois maiores tesouros de uma sociedade são as crianças e os avós. Quais são os dois maiores tesouros da sociedade? Todos juntos: [as crianças e os avós]. Cuidai das crianças e dos avós, está bem? E agora demos uma grande salva de palmas aos nossos avós!

Neste país tão sorridente, vós tendes uma história maravilhosa de heroísmo, fé, martírio e, sobretudo, de perdão e reconciliação. Faço-vos uma pergunta: em toda a história, quem é a pessoa que foi capaz de perdoar e de querer reconciliar? Pensai bem. Quem é essa pessoa? Quem é? [Jesus]. Jesus! Jesus nosso irmão, que nos quer todos juntos, não é? E esta reconciliação leva-me a recomendar-vos três coisas: liberdade, compromisso e fraternidade.

Na língua tétum há este ditado: “ukun rasik-an”, ou seja, cada um tenha a capacidade de se governar a si mesmo. Um jovem, uma jovem que não consegue governar-se, que não é capaz de viver “ukun rasik-an”, o que é? Alguém que dependente dos outros. Muito bem. E um homem, uma mulher, um jovem, uma jovem que não se governa a si próprio é escravo, dependente, não é livre. E do que é que um jovem pode ser escravo? Alguém que responda. De quê? Do pecado, do telemóvel... (daqui a pouco falarei sobre o telemóvel). E mais? Do que é que pode ser escravo? Ser escravo do seu próprio desejo, julgar-se omnipotente. E de que mais? [um deles responde] Da arrogância. Muito bem! Um jovem que está sempre assim é um jovem arrogante. Em vez disso, um jovem comprometido, um jovem que trabalha, como é que ele é? Dizei-me. Como é que é um jovem que trabalha? [um deles responde] Que bonito! Alguém que gosta da simplicidade. E que mais? E tem responsabilidade. Um jovem que aprecia a companhia dos seus irmãos e irmãs, e que tem responsabilidade, é um jovem que ama o seu país. Isto é muito importante!

E há outra coisa, que a Rogéria e a Cecília Efranio referiram, ao falarem da importância de cuidar da casa comum e de cultivar a unidade da família. Um jovem precisa de compreender que ser livre não é fazer o que se quer, mas ser responsável. E uma das responsabilidades é aprender a cuidar da casa comum. Para isso, o jovem precisa de se comprometer. Há um provérbio oriental que diz: os tempos difíceis fazem homens fortes. Olhai para os vossos pais, para os vossos avós, que tiveram de enfrentar tempos difíceis para dar liberdade ao país. Eis porque precisais de aprender a lidar com momentos difíceis.

E uma última coisa, antes de ir embora. Trata-se de um valor que é importante aprenderdes: a fraternidade. Ser irmãos, não inimigos. Os mais velhos, os vossos pais e avós, podiam ter ideias diferentes, mas eram irmãos. É é bom que os jovens tenham ideias diferentes? [Sim]. E para que é que isso serve? Para lutar com os outros ou para nos respeitarmos uns aos outros? [respondem]. Talvez penses assim: se eu pertenço a esta religião e tu àquela, chocamos um com o outro. Não, é necessário respeitar-se. Vamos repetir: respeitar-se.

Uma pergunta: o ódio é uma boa atitude? [Não] O amor e o serviço, eis a verdadeira atitude. Repitamos todos juntos: o ódio não, o amor e o serviço sim. Mais uma vez, não ouvi bem [repetem]. E se um jovem, uma jovem, lutar com outro jovem, o que é que deve fazer?... Não consigo ouvir. O que é que disseram? Vamos repetir todos juntos: amor e reconciliação... [repetem]. Amor e reconciliação.

Há uma coisa que não sei se acontece neste país, mas noutros países acontece: é o bullying. Aqui há bullying? O bullying é uma atitude que se aproveita do mais fraco. Porque é feio, porque é gordo, porque não caminha bem... mas trata-se sempre de uma atitude feia, porque se utiliza a fraqueza dos outros. Aqui, em Timor-Leste, há bullying? Por favor, a partir de agora, nada de bullying.

Queridos jovens, sede herdeiros da linda história que vos precedeu. E levai-na por diante. Coragem! Muita coragem para levar as coisas para a frente. E se discutirdes, reconciliai-vos. Agradeço-vos por tudo o que fazeis pela pátria, pelo povo de Deus. E não esqueçais o que nos disse o Ilham, que falou há pouco: precisamos de nos amar uns aos outros para além das diferenças étnicas ou religiosas. Compreendestes isto? [Sim] Reconciliação, convivência com as diferenças todas. É importante. Estais de acordo? [Sim!].

E antes de terminar, quero dar-vos um conselho: fazei barulho, criai confusão! O segundo conselho é: respeitai e ouvi os mais velhos, está bem? Qual foi o primeiro conselho? [respondem]. Muito bem. E o segundo? [respondem].

Deus vos abençoe abundantemente. Obrigado por estardes aqui. Obrigado por cantardes e dançardes tão bem. E, como é? Desculpai-me, porque eu é que já me esqueci. Quais foram os dois conselhos? O primeiro? O segundo? Criai confusão, fazei barulho e respeitai os mais velhos. Que Deus vos conserve esta alegria. Que Deus vos proteja sempre!

No final, após as saudações, o Santo Padre acrescentou estas palavras.

Obrigado pela vossa alegria, obrigado pelo vosso sorriso!

E dei-vos dois conselhos. O primeiro, qual era? [Respondem]. Confusão. E o segundo? [respondem]. Os jovens têm de criar confusão e os jovens devem respeitar os idosos, está bem? Todos juntos. Primeiro: confusão. Segundo: respeitar os idosos.

Obrigado pela vossa presença! Deixo esta terra que é um sorriso com os vossos rostos e com as vossas esperanças. Que Deus vos abençoe!