Que se encontrem soluções

Pope Francis delivers his speech to the crowd, from the window of the Apostolic Palace overlooking ...
19 setembro 2024

Um novo e sentido apelo à paz, em particular no Médio Oriente, foi lançado pelo Papa no final do Angelus de domingo, 15 de setembro, na praça de São Pedro. De volta a olhar ao meio-dia pela janela do gabinete privado do Palácio apostólico do Vaticano — depois de ter estado empenhado no domingo anterior com a viagem à Ásia e à Oceânia — Francisco introduziu a oração mariana comentando, como de costume, o Evangelho proposto pela liturgia (Mc 8, 29). Eis a sua meditação.

Prezados irmãos e irmãs
bom domingo!

O Evangelho da liturgia de hoje diz-nos que Jesus, depois de ter perguntado aos discípulos o que pensavam d’Ele, pergunta-lhes diretamente: «Mas vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mc 8, 29). Pedro responde em nome de todo o grupo dizendo: «Tu és o Cristo» (v. 30), isto é, «Tu és o Messias». Mas quando Jesus começa a falar do sofrimento e da morte que o esperam, o próprio Pedro opõe-se, e Jesus repreende-o severamente: «Afasta-te de mim, Satanás! — diz-lhe Satanás — Porque não pensas segundo Deus, mas segundo os homens» (v. 33).

Olhando para a atitude do apóstolo Pedro, também nós podemos interrogar-nos sobre o que significa realmente conhecer Jesus.

De facto, por um lado, Pedro responde perfeitamente, dizendo a Jesus que Ele é o Cristo. Mas, por detrás destas palavras corretas, há ainda um modo de pensar “segundo os homens”, uma mentalidade que imagina um Messias forte, um Messias vitorioso, que não pode sofrer nem morrer. Assim, as palavras com que Pedro responde são “corretas”, mas o seu modo de pensar não mudou. Ele ainda tem de modificar a sua mentalidade, ainda precisa de se converter.

E esta é uma mensagem importante inclusive para nós. Com efeito, também nós aprendemos alguma coisa sobre Deus, conhecemos a doutrina, recitamos corretamente as orações e, talvez, à pergunta “quem é Jesus para ti?” respondamos bem, com alguma fórmula que aprendemos no catecismo. Mas será que estamos certos de que isso significa conhecer realmente Jesus? Na realidade, para conhecer o Senhor não é suficiente saber algo sobre ele, mas é necessário segui-lo, deixar-se tocar e mudar pelo seu Evangelho. Ou seja, trata-se de ter uma relação com Ele, um encontro. Posso saber muitas coisas sobre Jesus, mas se não o tiver encontrado, ainda não sei quem é Jesus. É necessário este encontro que muda a vida: muda o modo de ser, muda a maneira de pensar, muda as relações com os irmãos, a disponibilidade para aceitar e perdoar, muda as escolhas que fazemos na vida. Tudo muda quando se conhece verdadeiramente Jesus! Tudo muda.

Irmãos e irmãs, o teólogo e pastor luterano Bonhoeffer, vítima do nazismo, escreveu: «O problema que nunca me deixa tranquilo é saber o que é realmente o cristianismo para nós hoje, ou até quem é Cristo” (Resistenza e Resa. Lettere e scritti dal carcere [Resistência e Rendição. Cartas e escritos da prisão], Cinisello Balsamo 1996, 348). Infelizmente, muitos já não se colocam esta questão e permanecem “tranquilos”, adormecidos, ou até longe de Deus. Em vez disso, é importante perguntarmo-nos: deixo-me incomodar, pergunto-me quem é Jesus para mim e que lugar ocupa na minha vida? Que a nossa mãe Maria, que conhecia bem Jesus, nos ajude com esta pergunta.

Após a recitação do Angelus, o Pontífice assegurou a sua proximidade às populações do Vietname e de Myanmar atingidas por inundações, recordou a beatificação no México do sacerdote Moisés Lira Serafín e a celebração em Itália do Dia dos doentes de esclerose lateral amiotrófica (ela ). Por fim, depois de ter lançado o apelo a favor da paz com um pensamento especial para as mães que perderam filhos na guerra, saudou os fiéis presentes.

Amados irmãos e irmãs!

Expresso a minha proximidade às populações do Vietname e de Myanmar, que sofrem com as inundações causadas por um violento furacão. Rezo pelos mortos, os feridos e os desalojados. Que Deus ampare aqueles que perderam os seus entes queridos e as suas casas, e abençoe quantos estão a levar ajuda.

Ontem, na Cidade do México, foi beatificado Moisés Lira Serafín, sacerdote, fundador da Congregação das Missionárias da Caridade de Maria Imaculada, falecido em 1950, depois de uma vida dedicada a ajudar as pessoas a crescer na fé e no amor do Senhor. Que o seu zelo apostólico estimule os sacerdotes a entregarem-se sem reservas ao bem espiritual do povo santo de Deus. Aplaudamos o novo Beato! Estou a ver ali as bandeiras mexicanas...

Hoje, em Itália, celebra-se o Dia dos doentes de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Asseguro uma recordação na oração por eles e pelas suas famílias; encorajo o trabalho de pesquisa sobre esta doença e as associações de voluntariado.

E não esqueçamos as guerras que ensanguentam o mundo. Penso na martirizada Ucrânia, em Myanmar, penso no Médio Oriente. Quantas vítimas inocentes! Penso nas mães que perderam filhos nas guerras. Quantas vidas jovens ceifadas! Penso em Hersh Goldberg-Polin, encontrado morto em setembro, juntamente com outros cinco reféns, em Gaza. Em novembro do ano passado, conheci a sua mãe, Rachel, que me impressionou pela sua humanidade. Acompanho-a neste momento. Rezo pelas vítimas e continuo a estar próximo de todas as famílias dos reféns. Cesse o conflito na Palestina e em Israel! Cessem as violências, cessem os ódios! Que os reféns sejam libertados, que as negociações prossigam e que se encontrem soluções de paz.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos vindos de Itália e de muitos países. Em particular, os fiéis da paróquia de Santa Edwige Rainha em Radom (Polónia); o grupo de sacerdotes jesuítas que vieram a Roma para estudar; os estudantes de Stade (Alemanha); e os participantes na caminhada de estafetas de Roma a Assis. E saúdo os jovens da Imaculada, que tiveram três ordenações nestes dias: parabéns!

Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!