Da Amazónia à favela de uma grande cidade, o profundo sentido da missão não muda: significa «anunciar o Evangelho, a novidade de Jesus», reconhecendo «as belezas que o Senhor nos oferece, como o sentir-se em casa em toda a parte». Não tem dúvidas sobre isto o padre Ignazio Lastrico, missionário italiano do Pime, que desde 1998 trabalha no Brasil, país que percorreu de lés a lés, da foz do rio Amazonas a Salvador da Bahia, passando por uma paróquia em São Paulo. «Nasci no centro de Milão e», narra, «o meu primeiro destino de missão foi a Amazónia, no início em Macapá e depois mais para o interior. Três anos numa periferia: fui o primeiro pároco, onde passa a linha do Equador, num bairro que ainda devia ser construído, com pessoas que vinham de outras regiões. O desafio foi ver crescer, como pároco, uma cidade porque aqui no Brasil há grande falta de sacerdotes: assim, o missionário torna-se imediatamente líder comunitário. Depois, quando fui destinado a uma área mais do interior, em Porto Grande, onde o território paroquial mede 200 km de extensão, com 96 comunidades, as provações tornaram-se outras. No Estado do Amapá, onde eu estava, os habitantes da região são caboclos, mestiços, pessoas que vivem em condições difíceis, de pobreza, sem estradas asfaltadas, dependendo da agricultura e da caça, mas certamente diante da beleza da natureza». Ali, o padre Lastrico viajava muito, deslocava-se de jipe ou de barco, de canoa. «Eu viajava uma vez por mês, alternando-me pelas várias comunidades: ficava uma semana inteira fora e vivia com o povo. Eram pessoas que só me encontravam duas vezes por ano: muitas comunidades da Amazónia só têm oportunidade de ir à missa duas vezes por ano, quando vem o sacerdote». Havia principalmente a necessidade, explica o missionário, de «estar perto» das pessoas, de «oferecer amizade». «Organizávamos momentos em conjunto, por exemplo o curso de catecismo da Igreja católica, em que participavam 40, 50, 60 responsáveis de comunidades, e em seguida partilhávamos com todos. Nunca me esquecerei do senhor Nicolau que, para participar nestes encontros, chegava a caminhar 30 km na floresta». Pois era sobretudo de relações humanas que se tratava. «Era um garimpeiro que se tinha convertido depois de uma vida passada num mundo muito violento e duro. Algum tempo depois, em ponto de morte, mandou-me procurar para se confessar e disse-me: “Procurei o ouro toda a minha vida e acabei por encontrar aquele verdadeiro, que é Jesus!”. Por isso, para nós missionários, o importante é “estar sempre presente”».
Na paróquia de Santana, com 70.000 habitantes na foz do rio Amazonas, onde vivia desde 2015, o padre Lastrico viveu o período da emergência da covid. Mas o missionário milanês garante que para ele «a pandemia, embora tenha sido muito difícil, foi um dos melhores momentos» da sua vida. «Fui forçado pela situação, pelo isolamento, a perguntar-me porque era um pároco ali. E então comecei a ir ao hospital, a visitar os doentes e a rezar por eles e com eles». Desde 2021 é pároco de São Francisco Xavier, numa favela de São Paulo. «Chama-se Vila Missionária, é um bairro que nasceu há cinquenta anos com os sacerdotes do Pime, e tem mais de 50.000 habitantes. No Brasil, 70% da população vive em favelas. Há áreas de extrema pobreza, mas são sobretudo realidades onde as pessoas saem de manhã muito cedo para ir trabalhar e regressam a altas horas da noite. Também os jovens trabalham durante o dia e estudam à noite. Assim, os encontros na paróquia devem ser feitos à noite, caso contrário é difícil falar com as pessoas». «Aqui», explica, «evangelizar significa, como também na Amazónia, visitar casas e famílias. E depois criar várias formas de encontro: por exemplo, introduzimos um projeto escolar de futebol e de dança. Tudo nasce realmente do espírito que age, não há um esquema bem definido, é uma evangelização que passa por gestos concretos». Como os dos projetos de acolhimento. «Com a Sociedade de São Vicente de Paulo, ocupamo-nos das necessidades dos mais pobres do bairro. E dispomos de um projeto social para educar os idosos».
O compromisso consiste em acompanhar as pessoas «num caminho de fé, por exemplo, refletindo sobre as catequeses do Papa, até num contexto», acrescenta, «igual ao de uma grande cidade como São Paulo, onde a vida é realmente intensa, mas sem um caminho a seguir, corre-se o risco de ser dominado por outras coisas, até por derrotas». Na mensagem para o Dia mundial das missões de 2024, sobre o tema: “Ide e convidai todos para o banquete”, o Papa Francisco observa que enquanto o mundo propõe os vários “banquetes” do consumismo, do bem-estar egoísta, da acumulação, do individualismo, o Evangelho chama todos «para o banquete divino», onde reinam a alegria, a partilha, a justiça, a fraternidade, na «comunhão» com Deus e com o próximo. «Nas comunidades da paróquia», relata o sacerdote, «nestes dias refletimos sobre a mensagem do Papa, na qual convida todos a intensificar a participação na missa, realçando a importância da Eucaristia. O banquete comunitário nasce precisamente da Eucaristia e por isso», acrescenta, «depois das celebrações procuramos fazer sempre uma pequena festa em conjunto, procurando esta unidade entre a celebração e a comunidade». Mas as atividades não se limitam a isto. «Abrimos a igreja muito cedo, às seis horas da manhã, a fim de que as pessoas que vão para o trabalho possam ter um momento de oração, de silêncio, antes de enfrentar os desafios do dia a dia. O importante é precisamente convidar todos para este banquete. E, para nós missionários, também estar perto de outros missionários, alguns no Japão, outros no Bangladesh, outros ainda na Rússia: pois o espírito missionário, neste mês de outubro, e sempre, não é apenas o da missão no próprio lugar, mas o da missão universal».
Giada Aquilino