«Ide e convidai todos para o banquete» (Mt 22, 9). O tema do Dia missionário mundial deste ano põe em evidência alguns temas ligados ao caminho sinodal que a Igreja está a viver: comunhão, participação e missão, que é sempre uma prioridade para nós, ou seja, anunciar o Evangelho no mundo contemporâneo.
Este ano, desde fevereiro, fui chamado a anunciar o Evangelho, quase diariamente, na aldeia dos refugiados e das pessoas que perderam tudo devido às cheias, aos ciclones e à guerra que assolam Moçambique, famílias que perderam as suas casas e encontraram refúgio numa tenda.
O campo onde estão alojadas cerca de 1.200 famílias fica no sul de Moçambique, a cerca de 60 km da capital Maputo, perto da fronteira com a África do Sul, um local isolado, com muitas dificuldades, sobretudo devido à falta de água e de energia, o que torna a vida diária muito precária e difícil.
Desde os primeiros dias, o impacto que tive com esta realidade foi realmente desafiante, o dia a dia feito de falta de água, falta de casa, falta de casas de banho e de todas as estruturas que poderiam tornar digna a vida de tantas famílias, em particular pesa o facto de para tantas crianças e jovens não haver possibilidade de frequência regular da escola. No entanto, há um aspeto que me surpreende todos os dias: a felicidade e a alegria das crianças que nada têm, algo que é verdadeiramente contagiante e me faz bem. Uma felicidade que elas sabem partilhar e contar com gestos e danças na santa missa dominical, onde confiam a sua vida precária à providência de Deus. É verdade que me sinto impotente perante tanta pobreza, cada família que encontro fala-me de dificuldades e precariedades, mas ao mesmo tempo sinto a esperança de que as coisas podem mudar, e isso impele-me a rezar todos os dias a Deus nosso Pai para que ele mude o caminho destas pessoas com a sua providência. A participação na santa missa, o desejo de rezar em conjunto e o sentimento de comunidade são sinais de que realmente todas estas crianças e jovens do campo de refugiados de Boane são sempre convidados para o banquete do Senhor e aí compreendem mais uma vez que a nossa vida, embora por vezes complicada e difícil, está sempre nas mãos de Deus.
Penso que ninguém quer viver nestas situações precárias, mas, ao mesmo tempo, posso dizer que me sinto em casa quando estou com eles, que me sinto bem, que tenho a certeza de que Jesus está no meio de nós, que podemos saborear, com todas as dificuldades, o banquete que o Senhor preparou para cada um de nós e que nos pede para partilharmos todos os dias.
*Frade missionário franciscano
em Moçambique
Luca Santato*