Odocumento votado pelo Sínodo a 26 de outubro constitui a etapa de um caminho iniciado com o Concílio Vaticano ii , que continua e deve ser vivido concretamente a todos os níveis nas Igrejas. É a tomada de consciência de que a sinodalidade representa o modo de viver e de testemunhar a comunhão. A Igreja não é uma empresa nem um partido, os bispos não são os “prefeitos” de Roma, os leigos não são meros executores de decisões e diretrizes clericais.
A Igreja é um povo. O povo de Deus, que caminha unido: a sua razão de existir não consiste na gestão de estruturas, burocracias ou poderes. Nem sequer em conquistar e defender um próprio espaço no mundo. A sua única razão de existir é tornar possível o encontro com Cristo hoje, em todos os lugares onde as mulheres e os homens do nosso tempo vivem, trabalham, rejubilam, sofrem.
Portanto, existe um modo de viver relações e vínculos absolutamente peculiar e evangélico. Um modo centrado no serviço, tal como Jesus ensinou. Há um modo concreto de tomar decisões, de programar e de agir que é em si mesmo um testemunho, especialmente num tempo como o nosso, caraterizado por divisões, ódio, violências, prevaricações.
Por conseguinte, viver a sinodalidade significa dar um passo rumo ao pleno cumprimento do Concílio. Significa levar a sério a originalidade — no sentido do enraizamento na origem — de ser Igreja: uma comunidade onde há lugar para cada um e onde todos são valorizados, uma comunidade de pecadores perdoados que experimentam o amor de Deus e desejam transmiti-lo a todos.
Com as suas perspetivas, o Sínodo sobre a sinodalidade pede muito a todos. Pede que se mude de mentalidade. Pede que não se considere a sinodalidade como uma incumbência burocrática a implementar paternalisticamente, com uma pequena reforma de fachada. Pede que se redescubra a vontade de caminhar juntos, como modalidade desejada, não passiva, com todas as consequências que isto comporta. Pede que se desfaçam as amarras e que se ouse, na certeza de que é o Senhor quem guia a sua Igreja mediante o dom do Espírito Santo. Pede que se repense o serviço da autoridade, incluindo o do Sucessor de Pedro. Exige um papel de maior responsabilidade para os leigos e especialmente para as mulheres.
É uma imagem de Igreja cujos membros estão enraizados — num lugar, numa história, numa comunidade, num contexto — e ao mesmo tempo são peregrinos, ou seja, a caminho, em movimento, em busca, missionários. Nesta nova perspetiva, as estruturas eclesiais já não representam o lugar para onde os leigos devem convergir, mas um apoio ao serviço que o povo de Deus realiza no mundo. O horizonte do texto, que o Papa Francisco quis confiar imediatamente a toda a Igreja, é a missão, segundo o esquema estabelecido pela exortação apostólica Evangelii gaudium, para fazer com que “Igreja em saída” não permaneça uma intuição nem acabe por se reduzir a mero slogan, mas que se realize plenamente com a contribuição de todos.
Andrea Tornielli