· Cidade do Vaticano ·

Desafio difícil mas necessário

A Palestinian woman carries a child as they walk past the rubble of houses destroyed in previous ...
14 novembro 2024

Contar a guerra é sempre difícil. Porque significa contar o horror. Contar o mal que, pela sua natureza, não se pode explicar, porque é «a ausência de explicação», como recordava Paul Ricoeur, que, no entanto, acrescentava: «O mal não se pode explicar, mas pode-se contar». Daqui o desafio: contar o inexplicável, o absurdo, o indizível. E contar, em particular, a guerra que desde há um ano se trava no Médio Oriente, por alguns aspetos, é ainda mais difícil, não só porque é uma situação que transborda de crueldade e de horror, mas também porque esta tragédia impacta fortemente a consciência civil e política ocidental porque, de certa forma, é filha daquele horror maior, o maior dos horrores, que foi o Holocausto.

Os testemunhos que publicamos sobre as criticidades que se encontram no relato da guerra são fortes, inquietantes, porque vêm de quem não só conta a guerra, mas a vive quotidianamente com uma grande dedicação e também com algum perigo. Mas sobretudo porque propõem uma leitura que muitas vezes escapa a quem a vê de longe. Não são apenas aspetos militares ou políticos a caracterizar este conflito, mas também, e sobretudo, questões subtis de caráter antropológico, cultural, histórico e religioso, que por vezes não são consideradas, talvez por um mal-entendido sentido do politically correct.

Destes testemunhos emerge a constatação, fundamental para compreender a complexidade da situação, de uma leitura extremamente polarizadora desta guerra. Que depois é filha da tendência fatal e mais geral para a polarização que polui o pensar nestes tempos difíceis e confusos. O único verdadeiro antídoto para este veneno é a representação verdadeira, honesta e não partidária da realidade, fiel à sua complexidade, tal como nos é frequentemente contada exatamente por quem está no terreno. Por isto, é importante ler estes testemunhos para nós, jornalistas e leitores, «nós que vivemos seguros nas nossas casas confortáveis», para ouvir com mais atenção e respeito as vozes de quem se encontra no terreno. E também com menos medo, ou com a capacidade de discernir e distinguir aquilo a que chamamos prudência, mas que muitas vezes é só medo.

Sem medo, portanto, mas com paixão pela verdade, continuar a contar o mal, o horror. É este o desafio que os jornalistas enfrentam, sempre e sobretudo quando relatam a guerra, «a coisa sobre a qual Homero escreveu», como refere C.S. Lewis na página da sua autobiografia. Contar a loucura da guerra sem nunca esquecer a piedade, a empatia por tudo aquilo que é humano. A poesia no Ocidente nasce com um relato de uma guerra no Médio Oriente, nas margens da Turquia. Homero, no seu modo poético, fala-nos da mãe de todas as guerras e é preciso recordar sempre que a Ilíada começa com a ira de Aquiles, o herói invencível dos Aqueus, mas termina com as suas lágrimas perante o velho pai que exige o corpo do filho assassinado, e o último capítulo do poema grego termina com a homenagem a Heitor, o inimigo dos gregos, o verdadeiro herói deste poema porque tem um rosto humano mesmo sob o terrível elmo de guerra.

Andrea Monda