Se alguém não soubesse que profissão desempenhava o Papa Francisco quando era jovem sacerdote, facilmente o descobriria ao ouvir os seus discursos, nos quais transparece não a sua «deformação profissional», mas a sua «marca ou eco profissional».
No discurso de 9 de novembro, dirigido aos participantes no Simpósio de Uniservitate sobre «Service-learning e Pacto Educativo Global» emerge claramente a marca do pedagogo, que segue uma metodologia de ensino muito eficaz. Trata-se da mesma metodologia que nos sugeriu também na Evangelii gaudium, para a preparação da homilia: partir de uma imagem, para apresentar uma ideia que suscite uma emoção e estimule à ação. A declinação destes quatro termos imagem-ideia-emoção-ação traduz-se, por outras palavras, na declinação de outros três termos aos quais o Papa Francisco nos habituou há muito e que define neste discurso como a «tripla linguagem»: mente-coração-mãos. Os participantes no Simpósio de Uniservitate tinham refletido precisamente sobre a articulação entre aprendizagem e serviço (Service-learning) e a sua concretização nos compromissos do Pacto Educativo Global.
No seu discurso, o Santo Padre parte de uma imagem sugestiva retirada do filme O Clube dos poetas mortos, a do Professor John Keating: «Este professor de literatura inicia a sua primeira aula com uma “reviravolta”: convida os alunos a subirem para as suas cadeiras e a olharem para a aula de um outro ponto de vista». Depois de ter captado, como um bom pedagogo, a atenção dos ouvintes através desta imagem inicial, o Papa deduz a partir desta cena a ideia central que quer desenvolver: «O episódio revela o que deveria ser a educação: não apenas a transmissão de conteúdos — este é só um aspeto — mas a transformação da vida. Não apenas a repetição de fórmulas — como os papagaios — mas o treino para ver a complexidade do mundo. Isto deve ser a educação».
Bem, agora a reflexão deve transformar-se em ação, ou seja, educar para mudar o mundo: «Significa o compromisso a cultivar um estilo pedagógico característico e uma didática coerente com os ensinamentos do Evangelho». O Santo Padre acrescenta: «Neste sentido, Uniservitate responde com coerência às intenções do Pacto Educativo Global, cultivando itinerários formativos cativantes para todos» e apela a «uma aliança educativa entre todos aqueles que contribuem para o crescimento da pessoa nas suas expressões científicas, políticas, artísticas, desportivas e outras». Portanto, para o Papa Francisco, educar não significa redução do conhecimento «à habilidade da mente», mas é necessário completá-lo «com a destreza de mãos laboriosas e com a generosidade de um coração apaixonado». E, a propósito de coração apaixonado, o Papa Francisco enriquece o seu discurso com o quarto «ponto metodológico», a saber, a emoção. Recorda, com comoção, um momento da sua infância em que interrogava o seu pai com a curiosidade típica de criança. Da memória desse episódio conclui: «O “porquê” das crianças nasce por vezes de uma desilusão, de uma curiosidade. Ouvir as perguntas das crianças e aprendermos a fazê-las. Isto ajuda-nos muito. E a esta eu chamo cultura da curiosidade. As crianças são curiosas, no bom sentido da palavra. A arte de fazer perguntas».
E o círculo fecha-se: a imagem sugestiva do Professor Keating sugere-nos a ideia de que educar é olhar o mundo na sua complexidade, para o mudar através de uma ação eficaz, isto é, o serviço, e tudo temperado com a emoção e a curiosidade da criança. «Neste mundo líquido — conclui o Papa o seu discurso — é necessário voltar a falar com o coração» (Carta enc. Dilexit nos, 9).
Obrigado «Professor» Papa Francisco, a sua «lição» tocou realmente a nossa mente, as nossas mãos e o nosso coração!
*Cardeal prefeito do Dicastério
para a cultura e a educação
José Tolentino de Mendonça *