Em conversa com o presidente da Conferência episcopal ucraniana

O mundo reze para que esta guerra insensata e cruel acabe

 O mundo reze para que esta guerra insensata e cruel acabe  POR-047
21 novembro 2024

Aguerra na Ucrânia está a intensificar-se. Na segunda-feira passada, o exército russo lançou um míssil balístico contra uma zona residencial e comercial de Odessa, matando 10 civis. Entre os mortos, médicos e agentes da polícia, 43 pessoas ficaram feridas, incluindo quatro crianças. Isto segue-se a um domingo dramático, com o ataque noturno a um edifício residencial em Sumy, no norte do país (uma dúzia de vítimas, incluindo duas crianças) e o ataque maciço com mais de 200 mísseis e drones destinados a atingir infraestruturas. D. Vitalij Skomarovskyj, presidente da Conferência episcopal ucraniana, comenta um cenário doloroso aos meios de comunicação social do Vaticano.

Como vê estes últimos episódios?

Nos últimos dias, temos visto que os ataques brutais e mortíferos continuam sem parar. Pessoas inocentes, civis e crianças estão a ser mortas. Expressamos as nossas mais sentidas condolências a todas as famílias das vítimas e dos feridos. Rezemos para que os políticos do mundo recebam o dom da coragem e da força. É preciso pôr termo a esta guerra cruel e sem sentido. Que a tão esperada paz chegue para o sofredor povo ucraniano.

A guerra em grande escala na Ucrânia dura há mais de dois anos e meio. Que significado atribui ao tempo que passa neste contexto doloroso?

Mil dias de guerra é uma ocasião muito triste. Preferia celebrar outros acontecimentos ou aniversários. O facto de esta guerra ter começado e se ter prolongado por mil dias é também uma demonstração da incapacidade da estrutura de segurança global. Para nós, este tempo de guerra é algo que ninguém esperava, que ninguém queria, mas aconteceu, e é um tempo de provações, provações muito duras, que o nosso povo tem de enfrentar. É por isso que os sacerdotes procuram apoiar o nosso povo, estar ao seu lado e ajudá-lo a superar estes tempos difíceis.

O que é mais difícil de enfrentar nesta guerra?

É a perda dos entes queridos. Para nós, o mês de novembro está associado à oração pelos defuntos. Vamos muitas vezes aos cemitérios. Vemos bandeiras nas campas dos nossos soldados mortos, nalguns cemitérios parecem uma floresta, e isso causa uma dor muito grande. Mas continuo a confiar na graça de Deus, que o seu sacrifício não foi em vão, que alcançaremos a paz e que o nosso país sairá melhor destas provações.

O que fazem as vossas dioceses na Ucrânia para acompanhar as pessoas que vivem situações de trauma e de luto?

Existem muitos programas com este objetivo. Na nossa diocese há um centro onde, antes da guerra, eram feitas atividades para crianças, vários cursos de língua. Agora reunimos ali pessoas “tocadas” pela guerra, viúvas, filhos dos mortos. Convidamos psicólogos para lhes dar apoio ou simplesmente recebemos mulheres e crianças para que possam passar algum tempo numa comunidade e obter algum tipo de reabilitação e ajuda. É muito importante não deixar ninguém sozinho com a sua dor, mas que esteja rodeado de pessoas que passaram por uma perda semelhante. Trata-se de apoio mútuo. Para além disso, existe também uma componente espiritual, nomeadamente a oportunidade de rezar, de assistir à santa missa. Em cada paróquia, consoante as possibilidades ou exigências, são organizados vários cursos de formação. Os nossos sacerdotes já fizeram este tipo de formação, onde lhes é ensinado como apoiar corretamente, de acordo com a abordagem psicológica, as pessoas que estão a passar por uma situação de luto. As religiosas também oferecem este tipo de acompanhamento. Por outras palavras, estamos envolvidos neste trabalho tanto quanto possível. Noutras dioceses, maiores e com mais oportunidades, este trabalho é ainda mais intenso.

O que gostaria de dizer aos católicos de todo o mundo por ocasião do milésimo dia do início da guerra?

Peço a Deus que inspire os nossos irmãos e irmãs de todo o mundo a continuar a rezar por nós. Sei que muitas pessoas estão a rezar por nós e estou muito grato por esta oração, por esta solidariedade orante. (Svitlana Dukhovych)