Na «conclusão de mil dias da agressão militar em vasta escala que os ucranianos continuam a sofrer», na tarde de 19 de novembro o Papa Francisco enviou uma carta ao núncio apostólico no martirizado país, D. Visvaldas Kulbokas, desejando que a palavra paz possa em breve «ressoar nas famílias, nas casas e nas praças da amada Ucrânia».
Prezado Irmão!
Através desta carta, que te dirijo como meu representante na amada e martirizada Ucrânia, desejo abraçar todos os seus cidadãos, onde quer que se encontrem.
Oferece-me a oportunidade de o fazer a conclusão de mil dias da agressão militar em vasta escala que os ucranianos continuam a sofrer. Sei bem que nenhuma palavra humana é capaz de proteger as suas vidas dos bombardeamentos quotidianos, nem consolar quantos choram os mortos, nem curar os feridos, nem repatriar as crianças, nem libertar os prisioneiros, nem atenuar os efeitos rigorosos do inverno, nem restabelecer a justiça e a paz. E é esta palavra — paz — infelizmente esquecida pelo mundo de hoje, que gostaríamos de ouvir ressoar nas famílias, nas casas e nas praças da amada Ucrânia. Infelizmente, pelo menos por enquanto, não é assim!
No entanto, estas minhas palavras não tencionam ser meras palavras, ainda que repletas de solidariedade, como faço desde o início da invasão deste país, mas veemente invocação a Deus, única fonte de vida, esperança e sabedoria, a fim de que converta os corações, tornando-os capazes de encetar percursos de diálogo, reconciliação e concórdia.
Sei que todas as manhãs, às nove horas, com um “minuto de silêncio nacional”, os ucranianos recordam com pesar as numerosas vítimas causadas pelo conflito, crianças e adultos, civis e militares, assim como prisioneiros, muitas vezes em condições deploráveis. Uno-me a eles, para que seja mais forte o clamor que se eleva ao Céu, de quem vem a ajuda: «O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra» (Sl 121).
Que o Senhor conforte o nosso coração e fortaleça a esperança de que, enquanto recolhe todas as lágrimas derramadas, e pedirá contas por elas, permaneça ao nosso lado até quando os esforços humanos parecem infrutíferos e as ações insuficientes.
Com a confiança de que será Deus a pronunciar a última palavra sobre esta terrível tragédia, abençoo todo o povo ucraniano, a começar pelos Bispos e Sacerdotes, com os quais tu, querido Irmão, estiveste ao lado dos filhos e filhas desta Nação, ao longo destes mil dias de sofrimento.
Vaticano, 19 de novembro de 2024