Mil dias. Passaram mil dias desde aquele 24 de fevereiro de 2022, quando o exército da Federação Russa agrediu e invadiu a Ucrânia por ordem do presidente Vladimir Putin. Mil dias e um número indeterminado — mas muito elevado — de mortos, civis e militares, de vítimas inocentes, como crianças que foram mortas nas estradas, nas escolas, nas suas casas. Mil dias e centenas de milhares de feridos e de traumatizados destinados a ficarem deficientes para o resto da vida, de famílias que ficaram sem casa. Mil dias e um país martirizado e devastado. Nada pode justificar esta tragédia que poderia ter sido impedida antes, se todos tivessem apostado naquilo a que o Papa Francisco chamou os “esquemas de paz”, em vez de se renderem à presumível inevitabilidade do conflito. Uma guerra que, como qualquer outra, é sempre acompanhada de interesses, o primeiro de todos o do único negócio que não conhece crises e que não a conheceu nem sequer durante a recente pandemia, o global e transversal dos que fabricam e vendem armamentos, tanto no Oriente como no Ocidente.
O triste prazo dos mil dias passados desde o início da agressão militar contra a Ucrânia deveria fazer levantar uma única pergunta: como pôr fim a este conflito? Como chegar a um cessar-fogo e depois a uma paz justa? Como dar vida a negociações, aquelas “negociações honestas” de que falou recentemente o Sucessor de Pedro, que permitam chegar a “compromissos honrosos”, pondo fim a uma espiral dramática que corre o risco de nos arrastar para o abismo de uma guerra nuclear?
Não nos podemos esconder atrás de um dedo. O eletroencefalograma da diplomacia afigura-se plano, o único suspiro de esperança parece ser aquele ligado às declarações eleitorais do novo presidente dos Estados Unidos da América. Mas as tréguas, e depois a paz negociada, são — ou melhor, deveriam ser — um objetivo perseguido por todos e não podem ser deixadas às promessas de um único líder.
Então, o que fazer? Como reencontrar, em particular por parte da Europa, um papel digno do seu passado e dos líderes que, após a guerra, construíram uma comunidade de nações, garantindo décadas de paz e cooperação ao Velho Continente? O chamado Ocidente, em vez de apostar apenas na corrida louca ao rearmamento e nas alianças militares que pareciam obsoletas e legado da Guerra Fria, talvez devesse ter em consideração o número crescente de nações que não se reconhecem neste esquema.
Há países que conservaram e até intensificaram relações de alto nível com a Rússia: porque não verificar, aprofundadamente, as possibilidades de encontrar soluções de paz comuns? Por que não desenvolver uma ação diplomática e um diálogo constante através de consultações não esporádicas, não burocráticas, mas intensas com estes países? E se as Chancelarias europeias têm dificuldade em seguir este caminho, pode-se prever um papel mais importante para as Igrejas, para os líderes religiosos? Além disso, para lá dos contactos oficiais, que aliás se reduzem a uma pequenina luz, seria de esperar dos países que apoiam financeira e militarmente a Ucrânia uma maior iniciativa de análise e de proposta: há uma urgente necessidade de “think tanks” internacionais capazes de ousar, de indicar caminhos possíveis e concretos de solução, de propor esquemas para uma paz aceitável para todos. Para isso, como disse o cardeal Parolin aos meios de comunicação do Vaticano, haveria muita necessidade de «estadistas com visão de futuro, capazes de gestos corajosos de humildade, capazes de pensar no bem dos seus povos». É também necessário, nunca como neste dia, que os povos levantem a sua voz para pedir a paz.
Andrea Tornielli