· Cidade do Vaticano ·

Abrir a “porta santa”
do coração

 Abrir a “porta santa” do coração  POR-050
12 dezembro 2024

Se perguntássemos hoje a qualquer romano na rua o que mais lhe recorda que o Jubileu está prestes a começar, quase certamente responderia: os estaleiros das obras. Com efeito, tal como aconteceu no Ano Santo de 2000, o centro de Roma está repleto de “obras em curso” para projetos mais ou menos imponentes que incidirão na viabilidade e na habitabilidade da Urbe. Também o Papa, por ocasião do Ato de homenagem à Imaculada Conceição na praça de Espanha, reconheceu que, neste momento, os romanos estão a suportar incómodos por causa das obras, mesmo que necessárias. Mas, logo a seguir, dirigindo-se à Virgem Maria, falou de outras obras, não visíveis, mas nem por isso menos importantes do que as que encontramos nas praças e ruas da capital. «E parece-me ouvir a tua voz — disse Francisco — que com sabedoria nos diz: “Meus filhos, estas obras são ótimas, mas atenção: não esqueçais os canteiros de obras da alma! O verdadeiro Jubileu está dentro: dentro, dentro dos vossos corações — dizes — dentro das vossas relações familiares e sociais. É no interior que devemos trabalhar para preparar o caminho do Senhor que vem”».

É dentro do coração que se encontra a fonte do Jubileu. É ali que está a “porta santa” que cada um de nós é chamado a abrir para viver plenamente este Ano, que é tempo de graça porque nos impele à conversão e à renovação interior. É por isso que neste 2024, que antecede o Ano Santo, o Papa Francisco não quis eventos especiais nem grandes iniciativas de “aproximação”, mas apenas nos pediu que nos preparássemos através da oração. Uma “sinfonia de oração”, como ele mesmo a definiu, que toque as cordas do coração para fazer ressoar um hino de alegria ao Senhor, que vem para salvar a humanidade cada vez mais desfigurada pelas guerras e pela violência. «Quando não se confessa Jesus Cristo — disse na sua primeira missa como Papa, a 14 de março de 2013 — faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”. Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio». Um mundanismo do qual escapar ainda mais neste Ano jubilar que está prestes a começar. Talvez um bom exercício de defesa seja precisamente concentrar-se no nosso coração, no seu estaleiro de obras para erigir uma casa acolhedora de portas abertas. E fazê-lo com humildade, conscientes de que «na oração, é Deus que nos deve converter, não somos nós que devemos converter Deus».

Os estaleiros da alma que Francisco tem em mente não se constroem com tijolos ou outros materiais. Edificam-se com a oração e, às vezes, até com as lágrimas da tribulação. As dos muitos que já não sentem a graça deste Ano que se aproxima. Tantos que, tomados pela tristeza, precisam de um abraço, de um olhar, de um simples “estar ao lado” que só o coração humano pode dar. Não a inteligência artificial. É antes de mais a eles, a estes “vencidos” do nosso tempo, que a “Igreja hospital de campanha” deve levar o remédio do Jubileu. É a eles que deve dar abrigo e consolação, permitindo-lhes tocar a orla do manto do Senhor. «Todos, todos, todos» pois, como escreveu Francisco na sua última Encíclica Dilexit nos, todos devemos «voltar ao coração». Todos nós, pecadores perdoados, «misericordiados», somos chamados a trabalhar com coragem e confiança nos canteiros de obras mais importantes da nossa existência: os canteiros do coração.

Alessandro Gisotti