· Cidade do Vaticano ·

No Ano Santo um cessar-fogo em todas as frentes de guerra

 No Ano Santo um cessar-fogo  em todas as frentes de guerra  POR-001
10 janeiro 2025

Um mundo em paz durante o Ano santo com um cessar-fogo em todas as frentes de guerra: o Papa Francisco confia este seu sonho no prefácio do livro “Jubileu da esperança” (Editrice Elledici, 2024, 144 páginas), escrito pelo vaticanista Francesco Antonio Grana.

Há muitas Turandot na vida de hoje que dizem: «A esperança desilude sempre». A Bíblia, pelo contrário, diz-nos: «A esperança não desilude» (Rm 5, 5). Spes non confundit. Este é precisamente o título da bula com que proclamei oficialmente o Jubileu 2025. Devemos pôr-nos a caminho, juntos, e tornar-nos verdadeiramente peregrinos de esperança, lema que escolhi para o próximo Ano Santo. A esperança, de facto, não é, como muitas vezes se pensa, otimismo, nem um vago sentimento positivo sobre o futuro. Não, a esperança é outra coisa. Não é uma ilusão nem uma emoção. É uma virtude concreta, uma atitude de vida e tem a ver com escolhas concretas. A esperança é alimentada pelo compromisso de cada um no bem. Cresce quando sentimos que participamos e estamos envolvidos em dar sentido à nossa vida e à vida dos outros. Alimentar a esperança é, portanto, uma ação social, intelectual, espiritual, artística e política no sentido mais elevado da palavra. É colocar as nossas capacidades e recursos ao serviço do bem comum. É semear futuro. A esperança gera mudanças e melhora o futuro. É a mais pequena das virtudes, dizia Charles Péguy, é a mais pequena, mas é a que nos leva mais longe. E a esperança não desilude. Nunca!

O que significa, então, tornar-se peregrinos da esperança? A peregrinação é um movimento físico: deixamos a nossa casa com as nossas certezas e partimos em direção a um destino. Por vezes, peregrina-se para pedir uma graça para si próprio ou para um ente querido, e só quando se regressa a casa é que se percebe que o verdadeiro milagre não é o da cura física, mas o dom da fé que é fortalecida, confirmada por essa viagem. Mas a peregrinação não é apenas uma partida física. É também uma viagem ao interior de si mesmo, questionando-se à luz do Evangelho. «Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida» (Spes non confundit, 5).

A sabedoria popular zomba dos homens e mulheres de esperança: «Quem vive de esperança morre desesperado». E o mundo de hoje parece confirmar esta convicção com as suas contradições, com as guerras que aumentam dia após dia, com as fábricas de armas que aumentam exponencial e rapidamente os seus lucros, com a desnatalidade sempre crescente, com os feminicídios e com tanto ódio que parece estar a prevalecer cada vez mais. Mas, graças a Deus, há tanto bem silencioso, até na Igreja, que todos os dias responde ao que pode parecer o abismo do mal. Vemo-lo na incapacidade de acolher os migrantes — são nossos irmãos! — que, enfrentando viagens ditas de esperança, mas que, pelo contrário, são verdadeiras viagens de desespero, encontram a morte nesse Mediterrâneo que se tornou um grande cemitério. Vemo-lo naqueles que alimentam conflitos que são demasiadas vezes esquecidos porque são dramas humanitários que, infelizmente, não são notícia.

Como eu gostaria que o próximo Jubileu fosse de facto a ocasião propícia para um cessar-fogo em todos os países onde há guerras! «Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra» (Spes non confundit, 8). Da guerra, de todas as guerras, — isto deve ser claro — todos saem sempre derrotados, todos! Da guerra, todos saem sempre derrotados desde o primeiro dia. Não há vencedores nem vencidos, só derrotados! «Deste entrelaçamento de esperança e paciência, resulta claro que a vida cristã é um caminho, que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus» (Spes non confundit, 5).

A esperança não desilude ninguém. «A fim de oferecer aos presos um sinal concreto de proximidade, eu mesmo desejo abrir uma Porta Santa numa prisão, para que seja para eles um símbolo que os convida a olhar o futuro com esperança e renovado compromisso de vida» (Spes non confundit, 10). Na Bula de proclamação do Jubileu 2025, pedi formas de amnistia ou de remissão da pena, condições dignas para os presos — são nossos irmãos! — e a abolição da pena de morte. Ela «é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa» (Discurso aos participantes no encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a promoção da nova evangelização, 11 de outubro de 2017). Cada vez que entro numa prisão, especialmente para a missa in Coena Domini da Quinta-Feira Santa com o rito do lava-pés, penso sempre: «Porquê eles e não eu?». É a misericórdia de Deus!

No Jubileu de 2025, milhões de peregrinos atravessarão a Porta Santa de São Pedro e as das outras três Basílicas Papais: São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos Muros. Gostaria que esta peregrinação não fosse uma viagem turística nem o alcance de um objetivo, como acontece nos Jogos Olímpicos. Gostaria que fosse realmente uma ocasião de conversão, de revisão da vida à luz do Evangelho, de escuta da única Palavra que salva, a de Jesus Cristo. E gostaria que esta peregrinação fosse sempre acompanhada por um gesto de caridade a realizar em segredo. Cada um poderá fazê-lo de acordo com as suas possibilidades para ajudar um irmão a levantar-se. Com efeito, só há um caso em que é lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo: quando se estende a mão para a levantar do chão. E gostaria também que a peregrinação fosse acompanhada por uma oração por mim, pelo Papa, porque este trabalho não é fácil.

Gostaria de frisar também que todos, todos, todos podem fazer esta peregrinação. Todos! O Jubileu não é uma via preferencial para o Paraíso destinada exclusivamente àqueles que se consideram perfeitos. Não, o Ano Santo com a indulgência do Jubileu é dirigido a todos. Todos! Porque todos somos pecadores, até o Papa, e precisamos de ser perdoados. Todos! Não há pecado que o Senhor não possa perdoar e não há ninguém que não possa pedir perdão ao Senhor. E aos confessores, especialmente aos missionários da misericórdia que instituí no recente Jubileu extraordinário, peço que «Continuem a ser instrumentos de reconciliação, e ajudem a olhar para o futuro com a esperança do coração que provém da misericórdia do Pai» (Spes non confundit, 23).

Como não ir com a mente à cena poética do pão do perdão de Os noivos de Alessandro Manzoni. Onde Frei Cristóvão diz: «Aqui dentro está o resto daquele pão... o primeiro que pedi por caridade; aquele pão, de que ouvistes falar! Deixo-vos outros: guardai-o, mostrai-o aos vossos filhinhos. Eles virão num mundo triste, em tempos tristes, no meio de gente soberba e provocadora: dizei-lhes que perdoem sempre, sempre! Tudo, tudo! E que também eles rezem pelo pobre frade!» (Os noivos, xxxvi , 580).

Estou grato a Francesco Antonio Grana que quis resumir o significado do Jubileu 2025 com este livro. Congratulo-me por ter sido evidenciado que o Ano Santo não é apenas um compromisso ditado pelo calendário, mas um verdadeiro instrumento pastoral que os pontífices, desde 1300 até aos nossos dias, utilizaram de acordo com as exigências do tempo em que foram chamados a conduzir a Igreja. «Apraz-me pensar que um percurso de graça, animado pela espiritualidade popular, tenha antecedido a proclamação do primeiro Jubileu em 1300. Com efeito, não podemos esquecer as diversas formas através das quais se derramou com abundância a graça do perdão sobre o santo Povo fiel de Deus. Recordemos, por exemplo, o grande “perdão” que São Celestino v quis conceder a quantos iam à Basílica de Santa Maria de Collemaggio, em Áquila, nos dias 28 e 29 de agosto de 1294, seis anos antes do Papa Bonifácio viii instituir o Ano Santo. Por isso, a Igreja já tinha a experiência da graça jubilar da misericórdia. E antes ainda, em 1216, o Papa Honório iii acolhera a súplica de São Francisco, que pedia a indulgência para quantos tivessem visitado a Porciúncula nos dois primeiros dias de agosto. O mesmo se pode dizer da peregrinação a Santiago de Compostela: de facto, o Papa Calisto ii , em 1122, concedeu que se celebrasse o Jubileu naquele Santuário sempre que a festa do apóstolo Tiago calhasse num domingo. É bom que continue esta modalidade “generalizada” de celebrações jubilares, de modo que a força do perdão de Deus sustente e acompanhe o caminho das comunidades e das pessoas.» (Spes non confundit, 5).

O Jubileu de 2025 oferecer-nos-á mais dois exemplos concretos de esperança: os beatos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, que serão canonizados precisamente durante o Ano Santo. Dois jovens santos que compreenderam imediatamente na sua vida que o centro de tudo é unicamente Jesus Cristo que se faz presente nos últimos, nos pobres, naqueles que são descartados pela sociedade.

Frassati, falecido aos 24 anos por poliomielite fulminante, afirmava que é preciso viver, não sobreviver. «O tempo que hoje vivemos não precisa de jovens-sofá» (Vigília de oração com os jovens por ocasião da xxx Jornada mundial da juventude, 30 de julho de 2016). Pier Giorgio «dizia que queria retribuir o amor de Jesus, recebido na Comunhão, visitando e ajudando os pobres» (Christus vivit, 60). É isto que nos é pedido também hoje. O Jubileu é uma ocasião propícia para viver a caridade: «Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me, estava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-37).

Acutis, poucos dias antes de morrer, aos 15 anos, de leucemia fulminante, disse: «Ofereço ao Senhor todo os sofrimentos que terei de suportar pelo Papa e pela Igreja, para que não tenha de passar pelo Purgatório e vá diretamente para o Céu». Carlo utilizou a Internet para evangelizar, mas «Ele sabia muito bem que estes mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo e das novidades que podemos comprar, obcecados pelo tempo livre, fechados na negatividade. Mas ele soube usar as novas técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho, para comunicar valores e beleza. Não caiu na armadilha. Via que muitos jovens, embora parecendo diferentes, na verdade acabam por ser iguais aos outros, correndo atrás do que os poderosos lhes impõem através dos mecanismos de consumo e aturdimento. Assim, não deixam brotar os dons que o Senhor lhes deu, não colocam à disposição deste mundo as capacidades tão pessoais e únicas que Deus semeou em cada um. Na verdade, “todos nascem — dizia Carlo — como originais, mas muitos morrem como fotocópias”» (Christus vivit, 105-106). Um ensinamento muito atual e válido para todos.

Espero que a leitura deste livro ajude a viver melhor o Jubileu da esperança.